segunda-feira, 31 de março de 2014

O contragolpe de 1964 e a inglória reforma agrária


A ameaça de implantação de um regime comunista no Brasil não foi, e não é de maneira nenhuma, uma paranoia constituída pela direita ou tampouco um simples ardil dos militares a fim de usurpar o poder de um governo democraticamente eleito. De fato, os antecedentes históricos validam essas premissas: no processo revolucionário de 1917, dos bolcheviques, calcula-se mais de 20 milhões de óbitos, entre condenados no Grande Expurgo de Stalin, camponeses dizimados pela fome por todas as regiões da URSS e presos políticos sucumbidos nos gulags durante a construção da Estrada dos Ossos, na Sibéria. Outro regime, de semelhante autoritarismo e penúria, eclodira na América Latina numa pequena ilha caribenha, cuja influência iria embevecer as mentes mais fascinadas do socialismo messiânico. A Revolução Cubana (1959), propagada pelo genocida e descarado Chevara – para os esquerdistas, pacifista revolucionário – e, não menos algoz, o cruento Fidel Castro, já saldou milhares de vítimas trucidadas no pelotão de fuzilamento e entre outras, que viraram comida de tubarões na tentativa de fuga das garras do descalabro.
Não é nenhum absurdo enxergar nas gêneses dos cenários de crises humanitárias pelo mundo um ranço de algum item do projeto marxista, seja alguma medida de agressão aos direitos individuais pelo governo ou a truculência estatal sobre os meios produtivos. Até mesmo se estende ao âmbito das atuais sociais-democracias, porém, de maneira bem mais discreta, disfarçada nas políticas afirmativas ou de inclusão social, por exemplo. A tragédia dos experimentos socialistas, destarte, segue ao longo das décadas transmutando e absorvendo outros significados, sejam estes étnicos ou culturais. Em países africanos, por exemplo, a Uganda de Idi Amin (1971-1979), ocorrera assalto às propriedades privadas, genocídio, perseguição racial, inópia econômica e a sucessão de conflitos armados que arrasara o país antes promissor. O mais sádico e medonho – que colocaria Vlad Tepes no bolso – acontecera, entretanto, em 1975 quando os khmers vermelhos liderados pelo monstro psicótico, Pol Pot, exterminaram com sandice macabra, mais de 2 milhões de inocentes no Camboja. Segundo relatos de sobreviventes, as crianças tinham os seus membros decepados um por um na frente dos pais, outras morriam dilaceradas nas presas dos crocodilos. Os recém-nascidos eram jogados para cima e serviam de brincadeira de tiro ao alvo. São comuns fotos na internet mostrando os comparsas serial killers exibindo como troféu, as cabeças decapitadas de suas vítimas. Como a ideologia marxista pôde ser tão facilmente deturpada ao longo do tempo, de todas as formas mais horrendas possíveis? De certo, ela aflorou os recônditos mais malignos das trevas de Pol Pot. É incompreensível como ainda podem defendê-la e transformá-la em método de ensino nas cátedras universitárias e escolas de nossos filhos. É simplesmente deplorável e assustador.
Na lógica, ao observamos o mínimo desses desígnios funestos tomando corpo aos poucos nas políticas de cunho social, em algum ensejo, é mister um complô reacionário de camadas mais esclarecidas a fim de rechaçar quaisquer possibilidades de dar evasão ao estado de barbárie ou atrocidades do tipo. No Brasil não podia ser diferente pelo seu próprio papel na dinâmica internacional. Em via de consolidação do socialismo de João Goulart, as classes ameaçadas e temerosas se opuseram à tecedura ideológica no transcurso dos acontecimentos. Por conseguinte, o respaldo para o contragolpe viera, sem dúvida, com a iminência de uma perigosa base de apoio ao futuro regime de Goulart. Alguns fatores destacam-se nesse sentido: o apoio popular em massa reunido no afamado Comício da Central do Brasil, em março de 1964, a tentativa de dividir o exército ao regimentar os sargentos sublevados, a existência na ocasião de uma classe proletária descontente facilmente maleável, os ensejos de formar células sovietes, ou seja, o Grupo dos Onze, de Leonel Brizola, e, por fim, a mobilização da Liga Camponesa, de Francisco Julião, propendendo constituir-se num grupo paramilitar a invadir propriedades rurais. Com efeito, as proposições políticas suplantadas de cima para baixo, sem anuência ou consulta popular, difundira o pânico, intensificando as volições mais reacionárias, como por exemplo, as do governador de São Paulo, Ademar de Barros, que cogitara a resistência armada, no caso de um golpe de Estado perpetrado por Goulart.
Os militares e os diversos atores sociais (o Congresso, Igreja, Imprensa, a classe média e a opinião pública) sentiram a incumbência de barrar a escalada de uma política perniciosa, e então encheram as ruas com cerca de um milhão de pessoas em apoio ao um contragolpe. O porquê deste termo? Ora, o alento coercivo da oposição contra Jango materializou-se nas ruas justamente no momento em que ele preconizava ao povo as suas medidas populistas autoritárias e prejudiciais à iniciativa privada do país, bem como o anseio de uma maior intervenção estatal, concentrando mais poder em suas mãos. Para tal intento, Goulart buscara apoio moral justamente nas massas assalariadas mais prejudicadas pelos anos de desando econômico. De certo, a classe média, a mais conservadora e instruída, também insatisfeita, percebera de maneira explicita que aquilo era uma manobra de uma trama golpista.
Outros detalhes vêm a calhar. Nas Reformas de Base de Jango, com a Lei Nº 4.131/62, regulamentara a aplicação do capital estrangeiro, aumentando, sobretudo, o controle estatal das remessas dos lucros de multinacionais para o exterior, alçando barreiras aos investimentos estrangeiros. Em outra vertente, o seu Decreto 53.700/64 previa desapropriar terrenos rurais, cerceando os direitos de exploração empresarial das principais propriedades do país. De fato, é importante observar como foram caracterizadas as áreas a serem incluídas no programa de distribuição de terras de Goulart: propriedades de relativo tamanho que estavam à margem dos eixos rodoviários federais, dos leitos das ferrovias nacionais e obras de infraestrutura pública, como oleodutos. Ora, era evidente um plano estratégico de articulação de bases revolucionárias ao longo da rede logística circunvizinha às cidades, que logo se tornaria na prática – como acontecera na realidade – focos de guerrilhas camponesas entre sem-terra e seguranças de fazendas. Um breve olhar histórico sobre o cenário de guerras civis, principalmente nos países que sofreram processos socialistas revolucionários, constata-se que elas se iniciaram através dos mesmos requisitos. Ressaltam-se ainda outras duas reformas: a educacional que propunha a imposição do método gramsciano e cafona de Paulo Freire nas escolas, como doutrina – essa é a cartilha que o MEC abraçou posteriormente de forma mais intensa – e a urbana, na qual arbitrara a favor dos inquilinos, concedendo-lhes o direito de compra do imóvel, com o preço taxado pelo governo; uma clara apropriação prepotente dos bens das pessoas e um entrave desleal sobre o mercado imobiliário.
Algumas razões históricas são importantes a fim de elucidar a ascensão do projeto marxista brasileiro, da qual culminara a situação política extremamente delicada que antecederam o fatídico “31 de março de 1964”. Com a doutrina de universalização comunista de Lenin, em 1922 funda-se o Partido Comunista do Brasil sob a égide do Kremlin. O PCB, em 1927, arquiteta uma frente única operária para se infiltrar nos quartéis, a fim de recrutar dissidentes militares e municiar o partido. Aparece, então, a figura de Luis Carlos Prestes, que logo aderira ao comunismo e à luta armada, em 1931. Já no governo Getúlio Vargas, durante o período Constitucional, em 1935, Prestes é nomeado líder pela Aliança Nacional Libertadora no comando da Intentona Comunista. Esta revolta consistira numa série de rebeliões militares dispersadas em várias casernas da época visando desestabilizar o governo e dividir o exército. Getúlio mina as forças revoltosas, com efeito, se perpetua no poder, endurece as perseguições políticas e acaba instaurando em 1937, o Estado Novo. Neste regime totalitário, com requintes de fascismo, as liberdades foram cerceadas, e o PCB é colocado na clandestinidade. O curioso notar é que no meio das atitudes despóticas de Vargas, surge nossa própria CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas – inspirada na Carta del Lavono (1927), de Mussolini. Mas fora durante o Período Eleito, em 1953, que Goulart é nomeado ministro do trabalho de Getúlio, na mesma época ele estreita os laços com o peronismo. Essas ideologias – de Benito Mussolini e Juan D. Perón – são fulcrais para a confecção da nossa CLT atual. Ela é considerada para os movimentos de esquerda um amuleto sagrado e intocável; já os intelectuais de visão tridimensional, enxerga ela, como um calvário de ônus draconianos impostos às empresas, enfim, um grande óbice ao desenvolvimento do país.
Voltando ao contexto, em 1961 subira ao poder o manguaceiro e polêmico Jânio Quadros. Figura loquaz e velhaca, ele governara o Brasil por apenas 7 meses, de forma ambígua: ora agradava as elites, ora condecorava um tal facínora esquerdista. Jânio vem à tona para ser o cocuruto histórico do turbulento período de instabilidade política da época, sobretudo destacando a internacionalização da revolução comunista mediante grupos radicais armados, que em vez ou outra tentara tomar o poder de alguma liderança não muito inteligente. No seu pífio mandato, Jânio deixara o país combalido a beira do caos econômico, cujo resultado fora a sua renúncia e a consequente coroação de seu vice João Goulart, em 7 de setembro de 1961. Ao assumir o governo, envolto numa conjuntura econômica extremante ruim, Goulart, semelhante ao seu antecessor, geria o país de maneira vacilante e temerária. Ele buscara agradar as elites ao mesmo tempo em que fazia concessões aos sindicatos, agremiações estudantis, trabalhadores rurais ou urbanos. Inocentemente, Goulart, jogava o país numa aventura socialista incognoscível, cujos pilares erguiam-se pelas suas próprias mãos ao aliciar as vias campesinas e tentar dividir as forças armadas. De resto, a fábula de sua política agrária seguia na contramão do desenvolvimento técnico-científico da época, que já sofria a veemência da globalização em curso, malgrado a bipolarização político-econômica alçada na Guerra-Fria. Pois enquanto o movimento natural primário da mundialização da técnica é o “campo-cidade”, o Brasil aluíra no engodo da retórica socialista de anticapitalismo, na qual apregoa o movimento “campo-campo” como forma de amenizar as desigualdades, os supostos conflitos agrários e a manutenção de um pragmatismo rural improdutivo.
A urbanização e a industrialização, na lógica, são processos objetivos sob os quais se reproduzem as formas e as paisagens culturais das localidades, também os símbolos e as identidades dos lugares, das regiões, dos estados e dos ecúmenos internacionalizados em rede. Os nossos valores perceptivos, contudo, coesos ao meio, são oriundos das atividades diversas do trabalho e técnica das cidades mais ou menos industrializadas, tendo em vista que a população ocidental desenvolveu-se no último século para se tornar majoritariamente urbano-industrial. Por conseguinte, mesmo o indivíduo que trabalha no campo não abnega desses valores porque o campo é também uma rede imbricada na mundialização. Em suma, o êxodo rural é o movimento primário de fluxo de mão de obra e valores culturais apressados pelo sistema capitalista das cidades, seja no setor de serviços ou industrial. Se por um lado, o campo possui a função de produzir matéria-prima ou produtos semi-industrializados, por outro, é compelido a utilizar novos modelos de gerência e a mecanização do trabalho a fim de garantir produtividade em larga escala, abastecendo as cidades; daí veio a dinâmica do agribusiness. Nele não existem chances a pessoas com parca educação, sem a mínima assistência técnico-financeira e sem acesso aos bens de produção modernos, ou seja, maquinários, sementes, adubos e outros insumos. Por esses e outros azos, a lógica da reforma agrária não se encaixa; nem no século XXI e nem tampouco a proposta por Goulart. O mercado agropecuário é um negócio complexo que envolve riscos financeiros e um uma larga margem de custos. Por isso, é um ramo empresarial onde são empregados, hoje, meios técnicos de high tech, sistemas de informação contábil, equipes de profissionais qualificados e todo um escopo logístico. Portanto, é dispêndio público jogado ao ralo ao colocar amadores sem-terra para explorar uma atividade tão custosa que requer profissionalismo e tino.
Não há ascensão social a famílias assentadas em quaisquer programas de reforma agrária unilateral nesse planeta, a não ser que sejam injetados bilhões em subsídios, nos moldes das pequenas propriedades rurais europeias, o que permite que elas forneçam matéria-prima a grandes multinacionais, como a Nestlé. Mesmo nessas condições, é preciso, além de uma logística eficiente e dinâmica, de um grande aporte educacional articulado visando à formação de engenheiros agrônomos, bioquímicos, geólogos e entre outros profissionais e técnicos. Vale ressaltar, os custos com insumos agrícolas, bem como, voltando ao Brasil, saldar as altas cargas tributárias do nosso sistema fiscal caquético. Os ditos sem-terra, portanto, diante de tal realidade, permanecem no mesmo status social, sobrevivendo de migalhas do governo; como essas várias “bolsas esmolas” que aviltam ainda mais as famílias rurais pobres do país. As raras cooperativas agrícolas, comumente amparadas pelo SEBRAE ou EMBRAPA, atuam num mercado muito restrito, ligado a produtos orgânicos ou artesanatos locais. Observa-se nelas, a eficácia da aplicação dos recursos no snow-how das comunidades, bem como no talento dos indivíduos e dos atributos culturais específicos. Portanto, em escala microrregional, explora-se a vantagem comparativa de algum produto genuíno ou típico, destarte, pode-se falar de uma espécie de “reforma agrária lucrativa”, de uma atividade produtiva economicamente possível. Caso contrário, é puro imbróglio sofístico de discursos demagógicos ou rabisco fútil de gabinetes de políticos pilantras que persistem no poder.
Em suma, podemos indagar se João Goulart era um ideólogo imprudente ou uma marionete guiada pelas suas inocência e paixões? Nenhuma das duas respostas, mas um pouco de cada uma. Especulando-se, o país poderia desencadear uma espécie de “Camboja light”, através da política agrária de Goulart, o que levaria centenas de trabalhadores à fome ou mendicância, atrasando, contudo, o desenvolvimento industrial do país. É insensatez fazer mais conjecturas desse tipo, já que o “se” de 1964 está a 50 anos recuados no tempo. O jargão “o fim justifica os meios” tão utilizado pelos ditadores, guerrilheiros e ideólogos marxistas, pode muito bem legitimar os militares em sua empreitada. Mas apenas no momento do contragolpe de 1964, já que os mesmos cometeram inúmeras incongruências após a chegada ao governo. Pois, apesar dos prodígios de Médici na área econômica e o combate ao terrorismo comunista, os militares tecnocratas não convocaram as eleições, como fora prometido, e minaram as principais lideranças políticas, nas figuras de JK, Carlos Lacerda e Ademar de Barros; ainda sufocaram as inspirações culturais e políticas na sociedade. Partindo dessa avaliação, talvez eu não seja tão insensato para fazer outras elucubrações.
Não tivemos uma ditadura e estamos vivenciando ela agora? Usando o exercício das aferências cognitivas; descartando o puro pragmatismo empírico, enfim, abolindo o materialismo dialético das paixões esquerdistas, posso dizer: impedimos a ditadura de Goulart; veio a segunda, de maneira súbita, com os militares, que se prolongou dolorosamente por 21 anos; e agora, o golpe de misericórdia, com a ascensão da social democracia brasileira. Está última, veio maquiavelicamente sutil, ocupando aos poucos os âmbitos da cultura, da educação e da política. Esta “ditadura”, partidária civil cheia de romantismo e de “boas intenções”, promove novos comportamentos coletivos, cultiva nossas esperanças, e, por fim, aproveita-se de nossas emoções vazias e fragilizadas pela frustração de uma jovem democracia doente.
Por isso, é patético e absurdo observar que ainda existem doutores e intelectuais, que não retiram a bunda de suas cadeiras para interpretar a história dessas “boas intenções”, nas quais inclui a inglória reforma agrária. E o pior: eles ainda defendem o terrorismo do MST financiado com recursos públicos. Por outro lado, olvidam a outra história que não estão nos livros didáticos. No final da década de 60, por exemplo, foram encontrados campos de refúgio de guerrilheiros treinados em Cuba, utilizando-se de fazendas compradas – com dinheiro escuso, talvez da KGB – pelo movimento revolucionário, em Goiás, Acre e Bahia. Aquelas propriedades rurais estavam longe de exercerem alguma a “função social”. Os acampamentos sem-terra de hoje, são sombras de uma história lúgubre enterrada. Eles, semelhantes aos do passado, estão articulados nas vias estratégicas próximas a grandes cidades, assim como, outrora, planejou Goulart em sua política agrária. Por outro lado, enquanto os países do G7 e do G20 se modernizam industrializando as suas cidades, a política indigenista, representada pela “Gestapo verde”, a aliança entre INCRA-IBAMA e o lobby de ONGs internacionais, estão expulsando famílias de suas moradias, verdadeiros agricultores, no Maranhão, Mato Grosso, Roraima e Bahia, sob o pretexto de que são posseiros e invasores de terras indígenas. Uma esdrúxula política agrária às avessas, sem precedente no mundo, ocorre diante de nossos olhos. Os acadêmicos e os cientistas engajados precisam conhecer esses novos e legítimos sem-terra. Assim, usar a influência que eles têm no governo a fim de forçar as instituições públicas a ampliarem os programas de cooperativas agrícolas e, de alguma forma, incluir esses trabalhadores rurais desdenhados nesses modelos de gestão.

O governo esgueira-se diante de um êxodo rural estúpido que gera mais pobreza nas periferias de cidades interioranas, conflitos de terras e mortes no campo. Não são os ditos latifundiários que produzem tais mazelas e sim os mesmos burocratas, ideólogos, os idiotas úteis políticos, os aproveitadores, os sádicos esquerdistas, os “intelectualóides”, enfim, os mesmos personagens que apoiaram Goulart e hoje se omitem diante da “história revisionista” do “Golpe de 1964”, termo sacramentado pelo historicismo dialético de nossos semideuses pedagogos. Aliás, como diria Belchior “e eles venceram e o sinal esta fechado para nós, que somos jovens...”. Eles não permitem que se conte outra história nas escolas; eles têm ódio diante de qualquer contradição à tramoia revolucionária. Portanto, se isso não é ditadura, eu já não sei o que é...

sábado, 22 de março de 2014

A morte de uma ideologia idiota



Há muito tempo não apareço aqui. Os últimos trabalhos foram publicados outrora no meu blog antigo que, sem intenção, foram perdidos quando cancelei a conta no GMAIL e não consegui recuperá-los. Tem quase dois anos que não escrevo nenhuma linha se quer, apesar de que às vezes ainda surgiu um poema ou outro. Algumas objeções me transformaram profundamente ao longo desse intervalo, e elas são a causa de findar o desprezo para com as minhas aventuras literárias. É muito importante enumerá-las aqui a fim de compreender a frustração e o real motivo de meu retorno a este blog. 1ª a decepção terrível que eu tive com a academia; 2ª a desilusão com os rumos da política educacional brasileira; 3ª o nível de miséria intelectual que solapa cada canto do conhecimento no Brasil; 4ª o regime político de repressão que se apossou do poder desse país.
A primeira objeção não é, de maneira nenhuma, uma experiência isolada de uma rebeldia sem causa ou desinteresse qualquer. A academia é um ninho de sonhos inebriantes para jovens cheios de ideologias ou pessoas talentosas que aspiram ao mercado de trabalho e à conquista da vida profissional. Das duas categorias – apesar de meus 27 anos – eu me encontrava na primeira; talvez por uma inclinação esquerdista na fábula patética de salvar o mundo. Mesmo sendo um cara cauteloso nos estudos, na minha concepção, todas as conquistas sociais e os direitos civis, de nossa Carta Magma, eram justificados e consolidados depois de uma ditadura direitista sanguinária. O que acabei por descobrir posteriormente que não foi bem assim como diz os livros didáticos. Vivia sempre nos corredores com algum exemplar do Milton Santos (1926-2001) ou David Harvey nas mãos; servindo como um “idiota útil”, embevecido numa névoa asinina de cretinice e idiotice ao extremo. Percebendo que a cátedra estava infectada de gente como eu, sem alternativa ao tacanho materialismo dialético, resolvi estudar disciplinas na área de arquitetura, ciências naturais entre outros autores não tradicionais no esquerdismo; assim me deparei com o geógrafo Yi-Fu Tuan, a fenomenologia e a sua Geografia da Percepção. O curioso ou assustador foi saber que não existia nenhuma obra desse autor na biblioteca da Universidade de Brasília – UnB, onde estudava. Se existe, certamente é pouco consultada. Esse cenário degradante é fruto de anos convivendo com o sistema educacional construtivista falido do Paulo Freire(1921-1997) inspirado em Antônio Gramsci(1891-1937), no qual prejudica alfabetização do aluno, construindo desde cedo alienados oprimidos e com baixo teor de discernimento, que, em última análise, entram nas universidades para se tornarem, na maioria das vezes, péssimos profissionais ou improfícuos alunos maconheiros que são verdadeiros “matusaléns” nas instituições, corroendo as verbas públicas. A academia, portanto, se transforma num monastério ignoto e fechado, com todo o corpo docente e discente formado por mulas “desbestadas” que descem a ladeira carregando os cacos da educação, sem conseguirem arrancar os seus antolhos.
Não há mais na academia brasileira espaço para outras linhas que não seja a ideologia esquerdista marxista. Isso é uma doença crônica no seu estágio final. Temas como sustentabilidade, economia verde, aquecimento global são manipuladas em volta do discurso da socialização da natureza para salvar o planeta do caos ecológico. Esquecem os professores e alunos, por exemplo, a obra de William Gray, meteorologista, um dos cientistas “céticos” que combatem essa patifaria da “ecologia do medo”.  Em outra vertente, as reivindicações das denominadas minorias, sejam elas gaysismo ou movimento negro, são temas recorrentemente catalisados para impor o discurso antagônico, o fanatismo e o ódio nas universidades, transformando-as em um cabaré de cegos. Mas não podemos olvidar que esse esquema macabro é simplesmente o projeto de poder do governo comunista que já está em pleno funcionamento; com toda sua máquina faminta e atroz sobre nossas cabeças. Não acredita caro leitor? Como diria Raul Seixas: “olha para cima, meu filho, o chão é lugar de cuspir...”.
Depois de sobreviver a esta moenda de cérebros dantesca, sem medo de chacota, posso afirmar que essa realidade pode se materializa na radicalização dos movimentos sociais partidarizados e nas leis que dividem a sociedade, como por exemplo, o projeto contra homofobia e as cotas raciais nas universidades. Ressalta-se também, a tomada, ou melhor, a “compra” governista dos sindicatos e grêmios estudantis. Em contra partida, evidencia-se a inexistência de uma oposição política expressiva no Congresso, que poderia em tese obstruir a construção desse antro de horrores e torpor. Portanto isso são sinais gritantes do que estou falando. O governo implanta o terrorismo ao desprezar o funesto número de vítimas do banditismo das ruas. Essa é uma estratégia de engenharia social facista na qual se governa pelo caos e a imposição do medo na sociedade. Uma população temerosa é bem mais fácil de manipulá-la. Não é nenhuma teoria da conspiração. Essa é simplesmente a realidade cruenta que assola o nosso país. As propostas românticas do PT no período de Redemocratização permanecem a anos-luz dos devaneios de nossas leis, da rotina horrenda das praças de guerra e do terrorismo autoproclamado pelo o próprio Estado que, pelo contrato social de Rousseau, deveria nos proteger.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Águia presa




Águia presa – essa inexistente liberdade –
Pode voar mesmo com asas quebradas.
Deve ser o preço de vidas despedaçadas
Sempre buscando uma efêmera felicidade.

Águia do desejo morre na enfermidade.
Por nascer das paixões não vingadas,
Restos de amores em ânsias desgraçadas
Que fugiram da enclausurada realidade.

Se na vida humana há tantas discrepâncias;
Ninguém é constante nas inconstâncias
Dúbias do resistente complexo irresoluto.

Nada no mundo dos desejos é eterno.
Todo ser humano tem esse mal moderno:
Sentimento estranho de perda e luto.

 *Todos os direitos reservados a Rodrigo Azenha 







Dores




As dores são como nuvens carregadas
Que desabam num chuvisco cristalino.
São fontes de rios ou lagoas transbordadas
Ou são enxurradas que correm sem destino.

Mas as dores serão sempre águas passadas
Que apagam as chamas dum amor ferino;
Ou pegadas iguais a errantes pegadas
Deixadas por um cambaleante peregrino.

Dores e lágrimas vêm em forma de enchente
Trazendo o remédio que cura eternamente,
Mas, às vezes, apenas ameniza e acalma.

Mas as dores que perseguem o ser humano
São iguais as dores de Pompéia e Herculano;
São as dores das profundezas da alma.

*Todos os direitos reservados a Rodrigo Azenha 



Identidade humana


  



Onde era o Império de Monomotapa –
O mesmo rico solo da Mãe africana –
Um dia concebeu a identidade humana
Que hoje vaga pelo globo sem mapa.

De Suméria; de Majapahit ou de Harappa
Veio a miscigenação e a busca insana.
O herói macaco, no mito de Ramayana,
Ou um dos sete sábios de Eridu: Adapa.

Da dualidade de Shiva-Shakti conflitante.
Se de Swásthya Yôga, ela era praticante,
Hoje sua ciência reluta na relatividade.

Caracterizada na arcana cultura olmeca
Ou na sagrada Caaba, na grandiosa Meca,
Sempre buscando uma singularidade.

*Todos os direitos reservados a Rodrigo Azenha 


Coração rebelde




Meu coração rebelde cheio de juventude
É tão medonho; tão patético e sem cor.
Pois chama o prazer da paixão de virtude
E a fragilidade de sublime amor.

Meu coração no auge dos vinte anos,
Cultua a dor, por ser tão inocente.
Luta numa guerra entre gregos e troianos
Em busca duma Helena inconsequente.

Meu coração sagaz é sempre insatisfeito.
Desfragmenta-se em pedaços no peito
Para não sentir uma dor trágico-cômica.

Meu coração é fraco por não ter Cupido.
Brigado com a Razão, vaga perdido.
Sem poesia é uma válvula anatômica.

*Todos os direitos reservados a Rodrigo Azenha 





Agonia de filósofo




Sabendo que só o tempo preexiste
Logo renunciei a certeza humana.
Junto com ela, a Razão espinosiana
E o amor pestilento dessa espécie triste.

Se a ciência na ignorância, insiste.
Busco matar as dúvidas numa purana.
Mesmo libertando-se da dor cotidiana,
A percepção pessoal que ainda assiste

A existência da não existência
Trespassando os níveis de consciência
No dualismo duma força inimaginável

Dentro da ordem lógica que pressinto,
Posso entender através do instinto
Ao invés da razão pouco confiável.

*Todos os direitos reservados a Rodrigo Azenha